sábado, 28 de fevereiro de 2009

Frankfurt, 5 de Março de 1947

Querido Caderno Diário,
Como estes anos têm sido muitos difíceis e complicados, decidi começar a aliviar a minha mágoa com alguma coisa e como perdi tudo o que tinha de bom, concluí que uma folha de papel seria um bom começo.
Faz hoje 2 anos que a minha filha Anne nos deixou. Não sei como viver este dia. Sinto-me tão culpado pela morte dela, penso que poderia ter impedido tudo o que aconteceu naquele dia. Acredito que poderia ter protegido melhor toda a minha família e os amigos que habitavam connosco no anexo secreto.
Tenho saudades da minha vida antiga, com todos os que mais amava por perto. Estou sozinho, não tenho ninguém que me console, que me faça feliz. Não há ninguém que diga “Bom dia melhor pai do mundo” como a minha Anne dizia.
Fico desolado só de imaginar a minha pequenina no meio do cheiro imundo a cadáver e de tanta violência. Nunca desejei que nada deste género acontecesse, acho que ninguém com o mínimo de bom senso deseja a morte a alguém, mesmo de raças ou religiões diferentes.
Dava tudo para poder trocar de lugar com a minha querida Anne, fazia tudo e mais alguma coisa para que ela não tivesse de passar por tudo aquilo que passou. Não quero imaginar as situações horríveis que ela e a minha família tiveram de viver.
Hoje, enquanto andava de um lado para o outro, encontrei uma fotografia da Anne em bebé. Todas as recordações me vieram à cabeça, lembrei-me dos momentos assustadores que passamos naquela cave mas também de como éramos todos tão unidos e nos protegíamos uns aos outros.
Depois de tanto tempo ainda não consigo fechar os olhos e deixar de ver todas aquelas imagens infernais e aterrorizantes a percorrerem o meu pensamento.
Por hoje é tudo. Estes pensamentos estavam-me entalados aqui, no coração. Obrigada por este bocadinho.

Até breve, Otto

Sara Viana, nº28 7ºF

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