terça-feira, 2 de dezembro de 2008

“Adoro a janela da minha sala, sentir o ar fresco na cara, ouvir o belo piar dos pássaros… Belas manhãs se passam à janela, faça sol ou chuva, calor ou frio e tantas noites a espreitar a lua mais envergonhada ou atrevida no ceú.
Tanta coisa que consigo ver da janela da minha casa que nem sei por onde começar!
Nas manhãs frias e ventosas vejo gotas puras de orvalho que se formaram durante a noite e caíram no solo, delicadas e com um ar frágil.
Na primavera, vejo pássaros a cantarem belas baladas mesmo em frente à minha janela, e eu oico-as como se fossem só para mim; por vezes até me parece que os pássaros tentem dar o seu melhor pio para se assegurarem que, no dia seguinte, eu estarei lá, só para os ouvir!
Vejo pessoas dum lado para o outro, algumas de cara fechada e olhos postos no chão, sem cumprimentarem os vizinhos e sem sorrirem.
Penso no que irá na sua cabeça: “Será que vou chegar a horas ao trabalho?”, !Hoje nem pude tomar o pequeno-almoço, tenho tantas coisas para fazer!” ou “Já estou atrasado, vou ter problemas!” e interrogo-me se serei assim quando crescer.
Será que não notam que, se fossem mais calmos e prestassem atenção às pequenas coisas da vida, seriam muito mais felizes?
Felizes como as crianças que eu vejo da minha janela.
Nunca têm pressa, estão sempre calmas e relaxadas, pois não têm nada com que se preocupar.
Alegram-se com qualquer coisa, vejo-as a ir ao baloiço e logo um enorme sorriso lhes ilumina toda a cara!
Vejo a sua felicidade quando recebem pela primeira vez um triciclo ou uma bicicleta e gosto, sobretudo, de ver que apesar das quedas nada pode abalar a sua vontade de conseguir. Gosto, também, de ver os rostos despreocupados dos pais nessas alturas; pessoas que costumo ver de fato e gravata, saltos altos e maquilhagem e que agora brincam de fato de treino, sapatilhas e rabos-de-cavalo, correndo atrás de bolas ou empurrando baloiços com um ar tão feliz quanto os seus filhos ou netos.
Ouvir as gargalhadas das crianças e até as recomendações dos pais “Usa chapéu meu filho!”, “Não andes ao sol”, “Tem cuidado” é quase tão bom como ouvir o chilrear dos pássaros.
Uma das melhores visões que tenho da janela da minha sala são os meus amigos, gosto de os ver aproximar de bicicleta ou a pé e já sei que me vêm chamar e nessa altura eu sorrio porque estar com os amigos não tem preço.
São estas coisas todas, que me alegram e por vezes entristecem; que me distraem e também me fazem reflectir, me transportam muitas vezes para outros tempos e lugares que eu tenho a sorte de ver da janela da minha sala.”

Valdo Nunes- nº29 - 7ºF

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