Desculpa ter estado este tempo todo sem escrever mas estava a tentar organizar as ideias.
Nem imaginas o que me aconteceu!
Estava eu a passear no campo, como tanto gosto de fazer e de repente apareceu à minha frente um jovem cabeludo e com umas calças todas rasgadas e um ar de quem não fazia ideia de onde estava! Ficámos os dois mudos durante algum tempo até que eu tomei coragem e lhe perguntei quem era, ao que me respondeu que era o Valdo.
O nome era tão estranho como ele; que tipo de pais coloca um nome desses a um filho com nomes tão bonitos como Bartolomeu, Dinis, Vasco, Cristóvão ou Pêro?
Trazia ao pescoço uma geringonça que eu nunca tinha visto e mexia numa caixa toda esquisita. Tinha um penteado muito impróprio, o cabelo todo desalinhado e devia ter-lhe acontecido algo muito mau pois tinha vários rasgões nas calças. Aliás, que roupa era aquela? E aqueles sapatos sem fivelas, nem tacão, todos pretos com uns fios esquisitos que entravam e saíam por vários buracos?
O tal Valdo mirava-me de alto a baixo como se visse um fantasma e perguntou-me em que século estava. Aí, tive a certeza de que batera com a cabeça ou algo do género e, com algum medo, respondi que estávamos no século XVI.
Abriu muito os olhos como se me fosse comer com eles e depois começou a falar muito rápido, a dizer que tinha vindo do século XXI, que morava em Braga, tinha 12 anos e que o seu pai tinha inventado uma máquina do tempo e ele, sem o pai saber, se tinha metido na máquina e ali estava ele.
Coitado, estava mesmo mal, seria o sol?
Ele deve ter notado que eu não acreditava em nada daquilo e perguntou-me o nome, ao que respondi Leonardo e disse-lhe que era em homenagem ao Da Vinci.
“-Grande inventor”, respondeu ele e acrescentou “- O meu pai diz que é um génio e eu também já li muita coisa sobre ele, sobretudo depois de ter lido o Código da Vinci”.
Eu não percebia nada e a minha cara devia mostrá-lo porque ele me convidou para sentar e me disse para não ter medo porque ele também estava um pouco assustado.
Pediu-me para lhe falar um pouco da minha vida e da minha cidade e eu contei-lhe que tinha 5 irmãos, que vivíamos numa casa à beira – Tejo e que tínhamos muitos criados e várias carruagens.
Contei-lhe que adorava ver da janela do meu quarto a azáfama dos barcos que partiam e chegavam carregados de mercadorias de terras distantes. Disse-lhe também, que me fazia pena ver os escravos que traziam sempre um ar tão triste e assustado.
Também lhe contei que tínhamos todos muito medo dos Inquisidores que queimavam as pessoas.
Então ele contou-me que no tempo dele a escravatura já não existe embora muitas pessoas ainda sejam exploradas. Disse-me que as pessoas já não andam de carruagem mas sim de carro e depois a rir disse:
-“ Apesar de os carros também terem cavalos!” e ainda disse “LOL”, seja lá o que isso for!
Contou-me que a maior parte das pessoas só tem um ou dois filhos e que em muitos países já há problemas por isso.
Disse-me que as pessoas são livres de ter a religião que querem na maior parte dos países e que podem ler o que quiserem sem serem perseguidas.
Eu nem queria acreditar em tal coisa!
-“ Conta mais!” Pedi – lhe eu.
Disse-me que as pessoas comunicam umas com as outras através daquela caixa que ele tinha, por uma coisa chamada Internet ou por telefone e que chegam muito rapidamente a todo lado numa coisa chamada avião (como se eu acreditasse que algo para além das aves conseguisse voar!) e falou-me dum tal Concorde (será algum descobridor famoso do seu tempo?!).
Quando lhe perguntei porque estava todo roto, disse-me que era moda e que no seu tempo cada um vestia aquilo com que se sentia bem e que fosse confortável, e eu fiquei espantadíssimo; então e os vestidos compridos, os espartilhos e as camisas de folhos, as golas armadas, os sapatos com os bicos para cima e os chapéus com penas?
-“ Nada disso “ disse ele.
-“ As meninas usam mini-saias e calças de ganga, os rapazes usam ganga e calçamos quase todos sapatilhas” e apontou para os pés. Eu nem me atrevi a perguntar o que era uma mini-saia ou ganga…
Quando lhe perguntei o que era o que tinha ao pescoço disse-me que era um MP4 e vendo o meu ar de espanto, colocou-me aquilo nos ouvidos. Quando ouvi a música até dei um pulo, aquilo era com toda a certeza bruxaria e daquela que dá direito a fogueira! Uma caixa que se põe nos ouvidos e dá musica só pode ser obra do…tu sabes de quem.
-“ Não te assustes, não te faz mal nenhum, é muito bom para ouvir música sem incomodar os outros, até a minha mãe o usa enquanto aspira a casa!” Riu-se mais uma vez.
Eu nem tive coragem de perguntar o que era “aspirar”, estava a fazer-se tarde e a minha mãe devia estar raladíssima.
Despedi-me ainda tonto com tanta informação e mais tonto quando ele me disse:
-“ Estou ansioso por regressar e contar ao meu pai, depois da ida do homem à lua, e do turismo espacial, conseguir isto é um feito e tanto e aqui entre nós, vai ser muito mais fácil fazer os testes de História! LOL
De novo aquela palavra esquisita…que jovem tão surpreendente!
Mexeu na caixa que transportava na mão e evaporou-se à minha frente enquanto eu pensava nas suas últimas palavras; o homem na lua? Ainda há pouco tempo se chegara ao Brasil!
Escusado será dizer que não falei desde assunto com ninguém até hoje e só te conto a ti porque és o meu confidente e melhor amigo e também porque não falas ou já sei que me dirias como os meus pais:
-“ Leonardo, a tua imaginação é como um cavalo desenfreado!”
Aqui entre nós, se o fizesses não seria eu a censurar-te; pois então se eu próprio ainda não acredito em tudo o que vi e ouvi!
Mas, anos que viva não hei-de esquecer aquele rapaz de nome e aparência tão estranhas.
Até manhã querido diário,
Leonardo.
Valdo Nunes Nº29 7ºF
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